Para quem gosta de arte, não é fácil escolher um museu em Paris. A cidade tem tantos museus que seria preciso uma vida toda para conhecê-los e, se bobear, ainda ficamos devendo. Mas, se você quer saber mais sobre a história da Cidade Luz não pode deixar de visitar o Museu Carnavalet. É um lugar lindo, situado em dois “hôtels particuliers” vizinhos, isto é, em dois luxuosos palacetes dos séculos XVI e XVII. Além disso, seu acervo é riquíssimo e, o melhor de tudo, gratuito.
Um novo museu para uma nova cidade
Situado no Marais, o Carnavalet é o mais velho dos museus municipais, ou seja, dos museus pertencentes à prefeitura de Paris. A ideia de sua criação começou durante o Segundo Império, no século XIX. Nesta época, parte do centro histórico de Paris era demolida, nas famosas reformas comandadas ao Barão Haussmann por Napoleão III. Havia, então, a necessidade de se criar um lugar para abrigar a memória da cidade, principalmente dos lugares e construções que não existiam mais.
O primeiro passo para a criação do museu aconteceu em 1866, quando, por insistência de Haussmann, o município adquire o Hôtel Carnavalet, famoso por ter sido a residência da Marquesa de Sévigné, uma das mulheres mais inteligentes do século XVII. No entanto, devido às instabilidades políticas, somente em 1880, quando a França já era uma República novamente, é que o Museu Carnavalet ou Musée de la Ville de Paris é inaugurado.
O maior acervo sobre Paris
O Carnavalet abriga o maior acervo sobre Paris, com cerca de 600 mil obras, entre pinturas, esculturas, mobiliário, fotografia, maquetes, objetos e até decorações de edifícios demolidos e ruínas arqueológicas. Possui 100 salas, muitas das quais procuram reconstituir a decoração dos interiores parisienses ao longo dos séculos XVII ao XX.
Uma das partes mais interessantes do museu é aquela onde a intimidade de moradores ilustres da cidade é retratada. Na reprodução do quarto de Marcel Proust, por exemplo, podemos ver a cama onde ele escrevia e, nas paredes, as réplicas de placas de cortiça, que ele usava para abafar o som e poder escrever em paz.
Mas podemos retroceder mais ainda no tempo ao visitar o Carnavalet. No museu estão expostas ruínas pré-históricas, como uma canoa-piroga (feita com tronco escavado), que data de 4600 a.C, e também as ruínas Gallo-Romanas, ou seja, da época em que Paris ainda se chamava Lutécia e era uma província do Império Romano.
Também é interessante ver a evolução do comércio da capital através da coleção de letreiros e tabuletas do museu. A maioria mostra os comerciantes de vinho e restaurantes.
E um museu sobre Paris não poderia deixar de abranger a Revolução Francesa. Desde a tomada da Bastilha, houve uma preocupação em fazer objetos-relíquias da prisão demolida. O empreiteiro Pierre-François Palloy, encarregado da demolição, contratou diversos artistas-anônimos para fazer esses objetos, muitos deles hoje expostos no Carnavalet. Também podemos encontrar artigos vindos da prisão do Temple, última morada da família real.
Não deixe de ver os jardins
Se o dia estiver ensolarado, vale a pena dar uma passeada pelos jardins do museu. Eles abrigam várias estátuas que faziam parte dos monumentos da cidade, como a de Luís XIV, de Antoine Coysevox, que antigamente ficava no Hôtel de Ville, a prefeitura da cidade. Durante a primavera, verão e no outono, se este não estiver tão frio, muitas pessoas vão até ali somente para bater um papo ou ficar sentadas nos bancos, curtindo o dia. Em comparação com outros jardins, os do Carnavalet não são muito grandes, mas não deixam de ser uma ótima pedida para relaxar, sentindo toda a atmosfera da história parisiense que o Carnavalet não cansa de contar.
Exposições Temporárias
O Museu Carnavalet promove, ao longo do ano, várias exposições temporárias, muitas vezes em sintonia com alguns eventos que acontecem pela cidade. Se tiver a oportunidade de ver uma delas, aproveite, pois são mostradas obras do acervo que normalmente não são acessíveis ao público. Mas, atenção, as exposições temporárias são pagas.
O Hôtel Carnavalet
Um dos “hôtels particuliers” onde fica o museu, é o Hôtel Carnavalet. Um dos mais antigos do Marais, foi construído em 1545, por Jacques de Ligneris, que era amigo do rei François I (ou Francisco I). Ligneris, que era um conde e presidente do Parlamento, compra o terreno e contrata o arquiteto Nicolas Dupuis e o escultor e também arquiteto Jean Goujon. Após a morte do aristocrata, seu filho vende o palacete, em 1578, para Madame de Kernevenoy, viúva de um bretão também amigo de um rei francês, no caso de Henry II (Henrique II). O nome Carnavalet vem de uma deformação desse sobrenome da nova proprietária.
Os proprietários se sucedem e as reformas também. Uma das maiores foi quando Claude de Boislève, intendente da Coroa, contrata o arquiteto François Mansart, um dos mais célebres da época, dando uma nova aparência ao palacete. Porém, em 1662, o Hôtel Carnavalet é confiscado, pois Boislève era próximo a Nicolas Fouquet, o superintendente que ousara desafiar Luis XIV com o castelo Vaux Le-Vicomte. O palacete cai, então, nas mãos do conselheiro Gaspard de Gillier, que não querendo morar no local, o aluga para a Marquesa de Sévigné, em 1677.
A dama, conhecida até hoje por ser uma mulher de letras e pelas correspondências que trocava (mais de 1100 cartas), dá nova vida ao Carnavalet. Morando no primeiro andar, na época o lugar mais nobre de uma casa, ela o descreve várias vezes em suas cartas para a filha, que morava na região de Provence. Após sua morte, em 1696, os cômodos em que morou foram várias vezes reformados. Hoje, eles fazem parte das salas Sévigné do museu e abrigam vários objetos que pertenceram à Marquesa. Desde 1866, o Hôtel Carnavalet é propriedade da cidade de Paris.
O Hôtel Peletier de Saint-Fargeau
Este segundo palacete que também faz parte do Museu Carnavalet, foi construído em 1688. Com projeto de Pierre Bullet, pertencia ao Conde Michel Le Peletier de Saint-Fargeau. O palacete segue com a família até 1866, quando também é comprado pela cidade de Paris, mas para abrigar a Biblioteca Histórica do município.
Em 1968, a Biblioteca é transferida e a hôtel é escolhido para ser uma extensão do Museu Carnavalet. Em 1984, ele começa a ser reformado para abrigar a coleção sobre a Revolução Francesa do museu. Em 1989 é inaugurado e, a partir do ano 2000, sua orangerie, uma das duas únicas remanescentes do Marais, passa a guardar a coleção arqueológica do Carnavalet.
Museu Carnavalet
23, rue de Sévigné (entrada pelo Hôtel Carnavalet)
75003 – Paris
Telefone: 01 44 59 58 58
Metrô – Saint Paul (linha 1) ou Chemin Vert (linha 8 )
Horários: de terça a domingo, das 10h00 às 18h00 (fechado em feriados e no domingo de Páscoa e Pentecostes).
Tarifa: gratuito para o acervo permanente. Para as exposições temporárias, o preço varia de acordo com a exposição.
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