Um museu que é formado por ruínas dos tempos dos romanos e por uma construção medieval, que leva Idade Média no nome (Moyen-Âge), mas que abriga também obras bem mais antigas, muitas delas encontradas ali nas próprias ruínas. Este é o Musée de Cluny. E, como se não bastasse, ele tem como celebridade uma obra que intriga os pesquisadores desde que foi encontrada, há quase 170 anos, e que já virou até tema de romance.
Já contei aqui neste texto das Arènes de Lutèce sobre a Paris na época dos romanos. Eles construíram uma série de coisas além das arenas, como, por exemplo, o Fórum, aquedutos e as termas. Na antiga Lutèce, havia cerca de três termas, as três, como a maioria dos edifícios públicos e religiosos, situadas na margem esquerda do Sena: um conjunto ficava onde hoje está o Collège de France, outro perto da atual rue Gay Lussac e, ao norte, as que chamamos de Thermes de Cluny.
Estas últimas foram construídas por volta do final do século I d.C e funcionaram por, mais ou menos, dois séculos. Eram as maiores da cidade, com cerca de 6 mil metros quadrados. Só em passar pela esquina dos bulevares Saint-Germain e Saint-Michel dá para ter uma ideia da imponência que elas tinham.
Como todas as termas da época, as de Cluny tinham uma série de cômodos, como o Caldarium (sala aquecida para banhos com vapor e para massagem), o Frigidarium (sala fria) e o Tepidarium (sala morna, intermediária), entre outros. O sistema de aquecimento e escoamento das águas, subterrâneo, era muito eficaz. E a água necessária era transportada através do aqueduto de Arcueil, na periferia parisiense.
A partir do século III d.C, as Thermes de Cluny foram deixando de ser usadas, tornando-se ruínas e jardins. Não se sabe anda qual foi a utilização exata do lugar no final da Antiguidade e início da Idade Média. Mas as ruínas do térreo, até então as únicas conhecidas, eram chamadas de Palais des Thermes durante o período medieval.
No século XII, os monges da abadia de Vaux-de-Cernay, que haviam comprado as ruínas, ampliam o lugar. No começo do século XIII, os vestígios das termas foram incluídos no perímetro urbano pela muralha de Philippe Auguste. É nessa época, em 1218, que o rei dá o Palais des Thermes a Henri le Concierge, como recompensa pela fidelidade de seus serviços na corte.
Em 1340, as termas são compradas pela Ordre de Cluny, uma ordem religiosa de origem beneditina muito poderosa na época. Ela já possuía um colégio em Paris, fundado no século XIII e comprou as ruínas para construir um palacete, que seria a residência parisiense dos monges.
Assim, o primeiro Hôtel de Cluny foi construído pelo abade Pierre de Chaslus, no final do século XIV. Não se sabe bem se foi uma construção ou apenas a ocupação e reforma das ruínas.
O palacete que vemos atualmente foi construído ou ampliado no século XV, por Jacques d’Amboise, abade e irmão do cardeal de Amboise, este último futuro ministro de Louis XII. Os trabalhos começam em 1485 e duram treze anos, o que era nada para a época.
Construído ao lado das termas, era ligado a elas. Isso ajudou a preservá-las, ao contrário de muitas construções antigas, que tiveram suas pedras retiradas para serem empregadas em outros edifícios. No Hôtel de Cluny, as termas faziam parte do palacete.
Em estilo Gótico Flamboyant, que é caracterizado pelas decorações em forma de chamas (flammes em francês), o palacete possuía um muro alto, somente interrompido por uma porta. Havia um grande pátio interior, rodeado pelas alas da residência principal. Os andares do palacete eram servidos por uma escadaria monumental e havia um jardim atrás da construção. O Hôtel de Cluny foi um dos primeiros exemplos de um modelo de arquitetura que vai fazer muito sucesso no Antigo Regime: os hôtels particuliers, os palacetes que ainda hoje podemos ver, sobretudo no Marais.
Em várias partes da construção está o brasão de Jacques de Amboise. No interior havia também nichos com estátuas de doze membros da família do abade. Hoje não existem mais. Havia também um segundo jardim, também suprimido, que destinava a dar um equilíbrio ao conjunto exterior. O arquiteto soube tirar proveito da irregularidade do terreno de um lado e das termas do outro. Estas impressionavam com suas duas abóbodas, a do Frigidarium e a do Caldarium. Mas, em 1737, a segunda abóboda desmorona. Mas as ruínas e o palacete continuaram em pé.
O Hôtel de Cluny continuou com os monges até a Revolução Francesa, quando se tornou bem nacional. No começo do século XIX, o conjunto arquitetônico formado pelo palacete e as termas começa gerar interesse. Em 1820, começam as primeiras escavações arqueológicas realizadas por Louis Moreau nas ruínas, que têm por resultado a descoberta dos subterrâneos das termas. Outras descobertas viriam com as escavações de Théodore Vacquer (1852). As pesquisas continuam mesmo no século XX.
No Hôtel, intervenções se sucedem. O palacete passa por vários proprietários e ocupantes, que o modificam, chegando mesmo a fazer mutilações. Até que Albert Lenoir, arquiteto dos Monumentos Históricos, decide retirar as construções parasitas que havia em torno das ruínas e do Hôtel de Cluny e restaurar as duas construções, de maneira a preservar o aspecto original.
Em 1832, o Hôtel de Cluny é comprado por Alexandre Du Sommerard, conselheiro da Cour des Comptes (um tipo de Tribunal de Contas). Apaixonado pelo período medieval e renascentista, ele colecionava objetos de arte e do cotidiano dessas épocas, e procurava um lugar onde pudesse guardar e expor ao público sua coleção.
Na mesma época, havia também a intenção, por parte de Lenoir, de criar o Musée Historique, reunindo o Palais des Thermes (as ruínas), o Hôtel de Cluny e o Convent des Mathurins, que ficava ali ao lado. As peças da Antiguidade ficariam nas termas, as medievais no palacete e as modernas no convento. Porém, a destruição deste último impede a realização do projeto.
Até que Alexandre Du Sommerard morre, em 1843. Poucos meses depois, em junho do mesmo ano, François Arago consegue a aprovação, na Câmara dos Deputados, de um crédito de 590 mil francos. Com isso, o Estado compra não só o Hôtel de Cluny como a coleção de Alexandre. A prefeitura de Paris, então proprietária das termas, decide doá-las para que fizessem parte do museu que seria criado no palacete. Não só as ruínas são doadas, como todos os elementos que nelas foram encontrados e que datam da época dos romanos, como, por exemplo, capitéis bem esculpidos, restos de mosaicos, estátuas, etc.
Assim, o Musée de Cluny é inaugurado em 17 de março de 1844 e Edmond Du Sommerard, filho de Alexandre, é o primeiro diretor. Durante os quarenta anos em que dirigiu o lugar, ele aumentou o acervo, adquirindo obras como a tapeçaria La Dame à la Licorne, as Coroas de Guarrazar, etc. O museu também foi escolhido para abrigar as obras retiradas durante a restauração da Sainte-Chapelle. Degradadas pelo tempo, elas foram substituídas por cópias idênticas, mas em vez de serem descartadas, entraram para o acervo do museu.
O desafio dos sucessores de Edmond, no final do século XIX e durante o século seguinte, é de manter a política de aquisições em equilíbrio com os espaços do museu, que eram os mesmos desde a sua fundação. Algumas obras eram colocadas em outros museus por falta de espaço. A situação é resolvida em 1971 com a criação do Musée National de la Renaissance com a parte da coleção de Cluny que era posterior ao período medieval. Mais de cinco mil objetos são transferidos para o novo museu.
Assim, o Musée de Cluny passa a abrigar somente obras que vão do século I d.C até ao final da Idade Média. A maioria delas é francesa, mas também há representantes de outros lugares da Europa. E o museu passa a ser chamado também de Musée National du Moyen-Âge.
Em 1977, a descoberta de 180 fragmentos da Notre-Dame agita Paris. Retirados da catedral na época da Revolução, foram encontrados por acaso durante os trabalhos nas fundações do edifício da Banque Française du Commerce Extérieur e foram doados pela empresa ao Musée de Cluny. Uma sala ao lado do Frigidarium das termas foi reformada para acolher todo esse conjunto.
Hoje, o museu abriga algumas obras dos tempos das termas e objetos do começo ao final da Idade Média, além de exposições temporárias e ateliês dedicados ao tema. Muitas dessas atividades são gratuitas.
A visita ao Musée de Cluny
Aqui vai um apanhado geral do que a gente pode visitar no museu. Como sempre, não é algo imutável, até porque os museus, ao menos aqui na França, sempre estão mudando e modernizando a apresentação das obras. Enfim, é um resumo do que você vai encontrar na sua visita.
Salas 2 e 3 – Quando há exposições temporárias, normalmente são apresentadas nessas salas (às vezes, as exposições ocupam o museu todo). Quando não há nenhuma exposição temporária, a sala 2 normalmente é usada para abrigar, sobretudo, esculturas do final de Idade Média, vindas da Bourgogne (Borgonha) até os Países Baixos; e a sala 3, cerâmica e porcelanas.
Sala 5 – Corridor des Albâtres (Corredor dos Alabastros) – Nos séculos XIV e XV, a Inglaterra era uma grande produtora deste tipo de obra, que era exportada para o mundo todo. Aqui no museu podemos ver vários exemplos, muitos dos quais guardam traços de policromia.
Sala 6 – Salle des Vitraux – Aqui estão presentes vitrais dos séculos XII e XIII, a época de ouro do estilo gótico. Eles vieram de algumas das igrejas mais importantes da França, como a Basilique de Saint-Denis (1140-1144), a Sainte-Chapelle de Paris (1243-1248), a Cathédrale de Troyes (1170-1180), entre outras. A maior parte foi retirada durante reconstruções, ampliações ou restaurações, quando o original foi trocado por uma cópia ou por uma obra mais recente.
Sala 7 – Passage des Dalles Funéraires – Aqui estão as lápides gravadas, que foram muito comuns durante a Idade Média. À direita, na entrada da sala 8, está um portal que fazia parte da igreja de Saint-Germain-des-Prés e data do século XIII.
Sala 8 – Salle Notre-Dame – Nesta sala estão expostos os fragmentos e obras que faziam parte da catedral de Paris, incluindo aqueles que foram descobertos em 1977. Vemos elementos do Portail Sainte-Anne, de 1145, as cabeças dos Reis de Judá (1220-1230) e a escultura de Adão (1260).
As vinte e uma “Têtes de la Galerie des Rois de Juda” são espetaculares. Mesmo com o desgaste do tempo e da depredação que elas sofreram nas mãos dos revolucionários, podemos ver a força expressiva de alguns rostos, o tratamento diferenciado em cada uma das ondas das barbas e dos cabelos, além de ficarmos impressionados com o tamanho delas (mediam mais de 3,5m de altura). Tudo isso prova o talento que esses escultores góticos possuíam. Eles eram, na sua maioria, artistas que participavam ou mantinham vários ateliês pela cidade, o que mostra que a Idade Média está longe de ser uma época de trevas em termos artísticos.
O Adão, de 1260, foi realizado por Pierre de Montreuil, um dos maiores escultores da época. Com 2m de altura, é uma obra-prima da escultura gótica ao mesmo tempo em que tem elementos que lembram as esculturas da Antiguidade. As costelas e o peito são desenhados com delicadeza. A posição da mão direita foi alterada em uma das restaurações. Originalmente, de acordo com uma imagem do século XIV, ela segurava uma maçã e era virada para o alto. Ele fazia par com uma Eva e os dois emolduravam um Cristo do Julgamento Final, em um dos portais externos da Notre-Dame.
Sala 9 – Frigidarium – Era a sala fria das termas. Incrivelmente bem conservada, a abóboda impressiona, tem 14 metros de altura. Nas paredes podemos ver como eram as técnicas de construção galo-romanas (usamos essa expressão porque a França era terra dos gauleses, que assimilaram a civilização romana e, junto com os romanos, viveram no território. Em resumo: os dois povos viraram um só e traços culturais de um influenciaram o outro na região).
Nesta sala estão várias obras dos tempos desta dominação romana. Uma delas é o Pilier de Nautes (confraria de comerciantes que percorria os rios da Gália). Trata-se de uma coluna monumental erguida no século I d.C., com inscrições ao imperador Tibério e cujos fragmentos foram encontrados, em 1711, sob o Coro da Notre-Dame. Outro exemplo é um pedaço do mosaico que revestia o chão, com um cupido cavalgando um golfinho, o que deixa transparecer que a decoração das termas teria a ver com o tema das águas.
Sala 10 – Salle Romane – Como o nome diz, aqui a maior parte são obras do período Românico (Roman em francês). Há capitéis que faziam parte da igreja Saint-Germain-des-Prés, obras da região de Auvergne, como os Cristos de madeira, e várias peças de marfim. Na Idade Média, esse material era usado para fabricar pequenos objetos, com motivos tanto religiosos quanto profanos.
Sala 11 – Salle Gothique – Na entrada desta sala há obras que vêm da Basilique de Saint-Denis, como, por exemplo, as estátuas-colunas. Aqui estão também obras vindas de várias igrejas da região parisiense datadas de meados do século XIII até início do XIV. O destaque são as estátuas dos apóstolos, que faziam parte da Sainte-Chapelle. Dentre eles, podemos distinguir Saint-Jean (São João Evangelista), pois é o único que está sem barba. Também nesta sala, a evolução da arte no marfim, agora gótica, em miniaturas da Virgem, baús, entre outros objetos.
Sala 12 – Salle Gotique – Também é centrada no período gótico, principalmente na escultura decorativa em pedra e madeira do século XIII. Nesta época, havia a preocupação de uma representação fiel da natureza e isto era presente nos elementos de decoração de diversos elementos, como capitéis, por exemplo. As obras aqui expostas, assim como as da sala anterior, vêm de diversas igrejas da região parisiense.
Sala 13 – Salle de La Dame à La Licorne – Aqui já é o primeiro andar do museu e é onde fica a obra “celebridade”, aquela que a maioria dos visitantes vem ver: o conjunto de tapeçarias La Dame à La Licorne (A Dama e o Unicórnio).
As tapeçarias foram descobertas no Château de Boussac, em 1841, por Prosper Mérimée – escritor que, na época, era inspetor dos monumentos históricos. Elas foram compradas pelo museu em 1882. Fabricadas na região de Flandres (que compreendia na época: norte da França, Bélgica e parte da Holanda), mais ou menos em 1500, não sabemos quem fez os desenhos nem quem fabricou as tapeçarias. Porém, o brasão da família Le Viste nos deixa saber quem as encomendou. A decoração luxuosa, a presença de vários animais, entre eles um papagaio, e a vestimenta dos personagens fazem destas tapeçarias uma obra excepcional.
O conjunto tem seis tapeçarias: cinco delas tratam dos cinco sentidos, uma tapeçaria é o Olfato (L’Odorat), outra o Tato (Le Toucher) e assim vai. Mas o significado da sexta, que contém a frase “Mon Seul Désir” (Meu único desejo) ainda é um mistério.
No desenho, a dama guarda o colar que usou nas outras tapeçarias. Alguns historiadores de arte dizem que o objeto é uma alusão à virgindade – guardar é proteger. A presença do unicórnio também significa pureza. Outros pesquisadores sugerem que se trata da noção de que, ao guardar o colar, ela recusa as paixões presentes nas outras tapeçarias do conjunto. E, por fim, grande parte dos especialistas sugere que se trata de um sexto sentido, o sentido do coração e do espírito, noção que era muito comum na filosofia medieval.
Em todo o caso, ela é uma obra misteriosa até hoje. Ainda no século XIX, George Sand falou dela em vários de seus escritos. E, atualmente, vários escritores lançam romances com a Dama. Na livraria do museu mesmo tem para vender.
Sala 14 – Salle des Peintures et Sculptures du XIV-XVI – Como o nome diz, aqui estão as obras dos séculos XIV ao começo do XVI, final da Idade Média. Há retábulos, esculturas e tapeçarias de várias regiões da Europa, principalmente do Norte, como a Bélgica, Holanda e Alemanha.
Eu achei muito interessante duas esculturas. A primeira é Sainte-Marthe et le Pénitents (entre 1450 e 1500). A santa é representada com um balde – passagem bíblica de Marta e Maria – e uma vestimenta de acordo com a moda no norte da Europa no século XV. Aos pés dela, os penitentes, que imploram sua intercessão. Ela tem as bochechas rosadas e seu manto tem traços de azul, que dá uma ideia de que a obra era bem colorida. Esta escultura vem da antiga região da Suábia que, na Idade Média, englobava, além da Alemanha, grande parte da Suíça e a Alsácia (hoje da França)
A outra obra é Marie-Madeleine. Feita em carvalho, achei uma escultura muito bonita e as tranças da santa me chamaram atenção. Até porque ela parece com uma mulher comum, vestida à moda da época do artista, também o norte da Europa do final do século XV. Se não fosse o recipiente com óleo – que faz parte dos atributos da santa (para ungir o corpo de Cristo) – nem saberia que se tratava de Maria Madalena. Achei o penteado e o rosto muito bonitos e eram mesmo os padrões de beleza da época medieval: tranças e testa alta, muitas vezes raspada.
Sala 15 – Corridor de la Nation Picardie – Esse corredor guarda o mobiliário que fazia parte da Chapelle de la Nation Picardie, construída no Quartier Latin em 1500. Mas também tem vitrines com vários objetos que evocam a vida cotidiana da Idade Média.
Sala 16 – Salle d’Orfèvrerie – É uma grande sala com vitrines que abrigam obras da ourivesaria medieval. Há também objetos de porcelana, e outros com pedras preciosas que datam da Antiguidade e também da Idade Média. A maioria das peças em ouro e em pedras preciosas é religiosa, mas isso se deve ao fato de que os objetos do dia a dia eram mais usados e, muitas vezes, quando ficavam obsoletos eram derretidos ou desmontados e compunham outros objetos, mais modernos. Já as igrejas guardavam seus tesouros, o que fez com que fossem mais bem conservados.
O destaque aqui é o Trésor de Guarrazar, descoberto entre 1858 e 1860, em Guadamur, perto de Toledo, na Espanha. Datado do século VII, era composto por 26 coroas (hoje restaram 10), várias cruzes e berloques, feitos em ouro, com incrustações de pedras preciosas, pérolas ou vidros coloridos. Algumas coroas levam inscrições, o que ajudou a datá-las. Em uma delas, há a letra R: trata-se do rei visigodo Receswinthe, que reinou entre 653 a 672, em Toledo, capital do reino. Ele, assim como outros reis, ofereceu o objeto ao Monastério de Santa María de Sorbaces.
De acordo com os historiadores, esse tipo de tesouro não era destinado a ser usado pelos soberanos visigodos e sim doado às igrejas da região para ser colocado em cima do altar. Após ser encontrado, o tesouro foi repartido entre Madri (Palácio Real e Museu Arqueológico) e o Cluny, que ficou com três coroas, duas cruzes e vários pingentes.
Sala 17 – Galerie de l’Hôtel de Cluny – A primeira parte desta sala abriga vitrais dos séculos XIV e XV vindos de diversas partes da França e Alemanha. A segunda parte é usada para abrigar tapeçarias do começo do século XVI. Mas, nesta minha visita para o post, iria abrigar também obras da exposição temporária, que iria começar na semana seguinte.
Sala 18 – Salle des Stalles de Beauvais – Stalles é aquela estrutura do coro onde os religiosos ficam sentados ou mesmo encostados para assistir as celebrações. As que estão nesta sala vêm da igreja Saint-Lucien-de Beauvais (1492 – 1500), destruída na Revolução Francesa. Não passem correndo aqui e observem as esculturas das stalles: elas representam fábulas, profissões e outros aspectos da vida cotidiana na Idade Média. Tem até uma cena de adultério: o marido pega a mulher com outro. O amante se esconde embaixo do forno enquanto o homem traído pega um bastão e tenta tirá-lo de lá, sob os olhos da mulher desesperada. É bem interessante. Nesta sala também estão os quatro episódios finais do conjunto de tapeçarias que retrata a vida de Saint-Étienne.
Sala 19 – Salle de l’Autel d’Or de Bâle – Aqui está o Antependium (parte da frente) do altar da catedral de Basileia (Bâle em francês), obra encomendada por Heinrich II, imperador do Sacro Império Romano-Germânico, e que data do século XI. Na mesma sala, está o Retable de la Pentêcote, retábulo do século XII, vindo de Stavelot, na Bélgica. Os quatro episódios intermediários das tapeçarias de Saint-Étienne também estão expostos nesta sala.
Sala 20 – Chapelle – Dos cômodos medievais do Hôtel de Cluny, este é o que está em estado quase original. É aqui que estavam as estátuas da família de Jacques d’Amboise (podemos ver os nichos vazios). O mais interessante é que a capela toda se apóia em uma única pilastra, que se abre numa abóboda cuja decoração em Gótico Flamboyant constitui uma das obras-primas do estilo. A sensação é de leveza e espaço.
Aqui também estão os primeiros episódios do conjunto de tapeçarias da Tenture de Saint-Étienne (o restante está nas salas 18 e 19), que conta a história do santo e da descoberta e transporte de suas relíquias. A obra tem 45m de comprimento no total, é composta por 12 tapeçarias e foi realizada em Bruxelas, mais ou menos no ano de 1500, para a catedral de Auxerre, na Bourgogne.
Sala 21 – La Dévotion – É consagrada à devoção. Há objetos de culto público, como os utilizados em procissões, e domésticos, como, por exemplo, os livres d’heures, que eram devocionários medievais encomendados aos artistas pela nobreza.
Sala 22 – La Vie Domestique – A vida doméstica aqui retratada é principalmente a do final da Idade Média. O conjunto de tapeçarias La Vie Seigneuriale (Países Baixos, 1510-1520) mostra a vida da aristocracia da época, retratando principalmente atividades ao ar livre. Há também móveis e diversos tipos de objetos, que retratam as refeições, os jogos da época, entre outras coisas.
Sala 23 – La Guerre, la Chasse et le Tournoi – A guerra, a caça e os torneios, em resumo, a vida “esportiva” medieval. Aqui estão os objetos que constituem nossa primeira impressão e fantasia do que é a Idade Média: os cavaleiros medievais. Armas, coletes, capacetes que retratam os modelos utilizados em todo o período. Tem até um tratado de combate. Também na sala há outras tapeçarias do conjunto La Vie Seigneuriale.
O Musée de Cluny também possui um jardim de inspiração medieval, mas este está fechado para reforma. O museu vai passar por uma restauração para, além de conservar as salas, adaptar o lugar para os visitantes com problemas de locomoção. Então, ao visitá-lo, fique atento ao site ou aos cartazes na recepção sobre as salas que podem estar fechadas.
Musée de Cluny – Musée National du Moyen-Âge
6 place Paul Painlevé
75005 Paris
Metrô: Cluny-La Sorbonne – linha 10
Saint-Michel – linha 4
RER B ou RER C – Saint-Michel-Notre-Dame
Horários: De quarta a segunda, das 9h15 às 17h45. Fechado em 1 de maio, 1 de janeiro e 25 de dezembro.
Tarifa: 8 euros (com áudio-guia) fora do período de exposição temporária. Reduzida: 6 euros
Em época de exposição temporária: 9 euros (também com áudio-guia). Reduzida: 7 euros.
Gratuito para menores de 18 anos e nos primeiros domingos do mês
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