Acabei ficando um pouco sumida por cauda de uma mudança, mas aqui estou de volta. E desta vez vou escrever sobre a Cité de l’Architecture et du Patrimoine, que é um dos museus que fica no Palais de Chaillot e do qual gostei muito. E quem gosta de arquitetura, de escultura e de pinturas murais vai adorar.
Antes de ser a Cité de l’Architecture atual, o local já abrigou um Musée de La Sculpture Comparée e um Musée des Monuments Français. O primeiro foi aberto em 1882, mas foi resultado de uma demanda antiga: desde 1848, os moldadores, que faziam moldes e cópias de diversas obras francesas, – inclusive para serem usados em restaurações – pediam a criação de um museu que guardasse essas cópias tão bem feitas, que eram uma obra de arte em si.
Viollet-Le-Duc, um dos grandes responsáveis pelas restaurações de monumentos do século XIX foi um dos mais ativos defensores da criação desse museu e, ao longo dos anos, enviou vários pedidos aos ministros. Mas, ironicamente, morreu em 1879, poucos meses antes da aprovação do projeto. E, assim o Musée de la Sculpture Comparée foi inaugurado em 1882, ainda no antigo Palais du Trocadéro. Na mesma época, havia ali também um museu sobre a Indochina e, para enriquecer o acervo do museu da escultura, abriram um ateliê de moldagem.
Com a destruição do Palais du Trocadéro e a construção do Chaillot, decidiu-se ampliar o museu e transformá-lo em um Musée des Monuments Français. Ele foi inaugurado em 1937 e existiu até 2007, quando foi danificado por um incêndio no Palais de Chaillot.
Então, essa ala danificada ficou fechada por 10 anos. Durante esse período, o governo decidiu ampliar o alcance do museu transformando-o numa Cité de l’Architecture et du Patrimoine, ou seja, um museu que homenageasse não só a arquitetura, mas tudo o que engloba a noção de Patrimônio de um país, como a escultura, as pinturas murais, os vitrais, enfim, todos os recursos artísticos que estão ligados ao edifício em si.
Assim, a Cité engloba três grandes partes: a Galerie des Moulages, ou seja, das cópias das esculturas e elementos arquiteturais feitas com moldes; a Galerie des Peintures Murales, que compreende as cópias das pinturas realizadas principalmente nas igrejas da Idade Média; e a Galerie de l’Architecture Moderne et Contemporaine, que inclui várias realizações que marcaram a história recente da Arquitetura.
A visita ao museu
1) Galerie des Moulages – São as salas que ficam no térreo. A coleção de esculturas dessa galeria engloba cópias de obras do século XII ao XVIII. Apesar da paixão pela cópia ser antiga – vem do Renascimento – foi a partir do século XVIII que elas, os moldes e quem os fazia começaram a ser valorizados. Vários ateliês de moldagem ligados a museus foram criados: o mais antigo data de 1794. Era a possibilidade de reunir várias obras-primas em um só lugar e estudá-las. O molde também era usado nas escolas de Belas Artes, nos ateliês dos artistas e, mais no século XIX, na restauração de monumentos.
Vários museus passaram a ter coleções de cópias de esculturas, feitas a partir de moldes. Porém o acervo que hoje está na Cité de L’Architecture foi enriquecido desde o século XIX e é o mais completo da França. O mais curioso para nós é que as reproduções são em tamanho natural e praticamente englobam as obras da Idade Média e Renascimento.
Há estátuas, portais, sepulcros, elementos de residência, etc, que abordam desde o período Românico até o Gótico Flamboyant, presentes em várias regiões francesas. É como se fizéssemos uma viagem pela França, admirando as mais belas obras do passado.
Tem, inclusive, reproduções de Patrimônios Mundiais da Unesco, como as esculturas e portais da catedral de Chartres e de Reims. Eu também adorei as obras do hôtel particulier de Jacques Coeur (o original está em Bourges), que data do século XV e é uma amostra do Gótico Flamboyant.
Na parte do Renascimento, o tamanho das obras impressiona. Como a reprodução da Porta du Gros Horloge de Rouen. Há também obras do século XVIII e de arquitetura civil e militar, como, por exemplo, esculturas do Arco do Triunfo.
Para acompanhar as cópias (ou reproduções), várias fotos mostram o lugar onde a obra original está; além de espaços multimídias com temas específicos ou que mostram o monumento em visão panorâmica. Há, também, explicações sobre a técnica de fabricação da cópia usando moldes, todas bem interativas. Aliás, esses elementos multimídias e interativos também estão presentes em outras partes do museu.
Várias maquetes espalhadas pela galeria celebram a arquitetura. Achei bem interessante as obras que mostram Provins, as que reproduzem castelos e a que retrata da Notre-Dame antes da restauração do século XIX.
Também encontramos algumas reproduções de vitrais e a abside pintada da capela de Berzé-la-Ville, que são o elo com o departamento seguinte: o de pinturas murais. Mas atenção: não faça como eu, não pegue o elevador panorâmico. Deixe para pegá-lo quando for descer, no final da visita ao museu.
2) Galerie de Peintures Murales et de Vitraux – Depois que você visita a primeira parte do museu, você sai pela porta paralela a que você entrou e, à esquerda no hall, pega o elevador até o último nível: é onde está essa segunda parte da visita à Cité de l’Architecture. Ela começa no segundo andar, e você vai visitando e descendo aos poucos para o primeiro andar.
Essa segunda parte foi criada já na época do Musée des Monuments Français (1937). A principal razão era preservar a memória artística das pinturas murais francesas, já que muitos originais estavam desaparecendo ou se degradando com o tempo. Nela estão as reproduções de pinturas e vitrais de obras do século XII até o XVI. A ligação com a arquitetura vem do fato de que a pintura mural e o vitral eram considerados adornos do edifício.
As reproduções começaram a ser feitas em 1939, com pintores de afrescos formados na escola de Belas-Artes. O mais interessante é que os copistas fizeram tão fielmente as cópias, que elas apresentam o estado de conservação do original na época em que foram reproduzidos. Então, vemos, inclusive, as lacunas e as degradações da obra que foi copiada.
Quase a totalidade das pinturas murais são obras presentes em igrejas; algumas já tiveram, inclusive, os originais destruídos, principalmente na época da Revolução. Para acompanhar várias delas, instalações de arte contemporânea, que proporcionam um bom diálogo entre passado e presente.
As reproduções de vitrais englobam obras da época medieval e Renascimento, a idade de ouro dessa técnica. Também há uma mesa interativa explicando como um vitral é feito. Nem é preciso dizer que a temática é religiosa, já que os vitrais são presentes principalmente em igrejas. Aqui também há obras cujos originais desapareceram na Revolução.
3) Galerie de l’Architecture Moderne et Contemporaine. Fica no primeiro andar. É a parte mais recente do museu e engloba a história da arquitetura de 1851 até hoje. A coleção é organizada em vários temas, mas foca, sobretudo, nas técnicas e nos homens.
Há maquetes, desenhos, fotos e até vídeos não somente de construções francesas, mas de outros países também. São cerca de uma centena de edifícios e construções maiores, que marcaram de alguma forma a arquitetura mundial.
O percurso começa falando da Revolução Industrial e suas mudanças na construção de um edifício. Há uma maquete que mostra a transformação de Paris efetuada por Eugène Haussmann, na metade do século XIX.
Depois, há uma reflexão sobre o trabalho do arquiteto. Em seguida, o foco é nos novos materiais, estruturas e na grandeza das construções, com reproduções de estações, centro de exposições e arranha-céus. Também é mostrada a preocupação com clima e a gestão de energia.
Por fim, a abordagem é na Arquitetura e Sociedade: são mostradas construções destinadas ao esporte, à cultura, etc. Mas o destaque dessa parte do percurso são as habitações sociais, isto é, destinadas à população de baixa renda.
São mostrados vários exemplos deste tipo de construção, que está longe de ser unanimidade até hoje aqui na França. As inovações arquitetônicas de cada uma dessas habitações sociais, presentes em várias cidades francesas, são reproduzidas fielmente em maquetes. Nessa, parte da galeria, a ordem é cronológica.
E o percurso termina com a reprodução, em tamanho natural, de um apartamento de uma unidade de habitação de Marseille, o original realizado em 1952 por Le Corbusier, o mesmo que fez a Villa Savoye. Ele representa a síntese de todos os temas tratados nessa parte do museu.
O período mais contemporâneo da Arquitetura é abordado nas exposições temporárias realizadas na Galeria. São ao menos duas por ano e muitas delas aproveitam o acervo do museu (pois nem tudo é exposto sempre). Ao final da visita, você pega o elevador panorâmico nesse andar e desce para o térreo.
Na Cité de l’Architecture et du Patrimoine há também uma biblioteca, uma livraria e um café.
O percurso de visita é esse que descrevi no texto. Mas, na primeira vez que fui lá, acabei pegando o elevador panorâmico – que fica no fundo da Galerie des Moulages – para subir e fui direto para a parte de arquitetura moderna. E aí depois que voltei para a segunda parte, a galeria das pinturas murais. Apesar de não ser nada que comprometesse meu passeio, fica mais fácil entender o museu com esse percurso descrito aqui.
Cité de l’Architecture et du Patrimoine
Place du Trocadéro et du 11 Novembre
75016 Paris
Metro: Trocadéro – linhas 6 e 9
Horários: segundas, quartas, sextas, sábados e domingos, das 11h às 19h. Quintas, até as 21h.
Tarifa: 8 euros, coleção permanente. Gratuito primeiro domingo do mês para a coleção permanente.
Aceita o Paris Museum Pass
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