Mais um texto sobre a minha viagem a Strasbourg. Dessa vez vou falar dos museus em que fui. A cidade tem uma história rica e movimentada e por isso pôde acumular um patrimônio artístico excepcional. Como fiquei mais dias na cidade, acabei tendo tempo de visitar vários deles e aqui conto um pouco do que vi.
1) Musée de l’Ouvre Notre-Dame – O legal desse museu já começa na construção que o abriga, aliás, construções: já que uma das casas é do século XIV e em estilo gótico – a da esquerda; e a outra do século XVI, renascentista – a da direita. Ali ficava a sede da corporação dos talhadores de pedra e operários que construíram a catedral. E detalhe: ela existe até hoje, só que em outra sede.
O museu abriga obras que faziam parte da Catedral – que foram retiradas durante as restaurações e substituídas por réplicas -, assim como elementos de outras igrejas da Alsácia e trabalhos de artistas consagrados da região.
São 42 salas e do que vi, o que achei mais interessante foi: as estátuas originais do Portail de Saint Laurent, o portal norte da catedral. As obras são enormes e o que achei interessante é que as esculturas de Strasbourg possuem uma expressividade diferente de outros lugares, são bem marcantes. Dêem uma olhada nos rostos dos personagens.
Essa expressividade a gente vê também nas “Vierges Sages” (Virgem Sábia) e “Vierges Folles” (Virgem Louca) que ficam na Salle du Jubé. Aliás, essa sala, que também abriga obras da catedral do século XIII, é impressionante e lembra uma capela. Ela tem esse nome porque abriga uma parte do antigo jubé da catedral (elemento que separa o coro do resto de uma igreja), que foi retirado em uma das restaurações.
Também gostei muito das salas que abrigam as obras de artistas locais do final da Idade Média e começo do Renascimento. Como as obras do escultor Nicolas Gerhaert de Leyde, holandês que trabalhou em Strasbourg no século XV e que se caracterizou por dar um toque de realismo a seus personagens.
Endereço: 3 Place du Château,
67000 Strasbourg
Telefone: 03 88 52 50 00
Horários: de terça a domingo, das 10h às 18 horas.
2) Palais Rohan – Esse palácio foi construído entre 1732 e 1742 pelo cardeal da cidade, Armand Gaston de Rohan-Soubise, filho ilegítimo de Louis XIV. Por causa da irregularidade do terreno, sua construção foi um verdadeiro desafio para Robert de Cotte, arquiteto do rei. Ele se inspirou nos palacetes parisienses (hôtels particuliers), pois uma das intenções era mostrar toda grandeza da arquitetura francesa.
Quando os reis e governantes vinham a Strasbourg, era no Palais Rohan que ficavam hospedados. Foi ali que Maria Antonieta passou sua primeira noite na França. Chegou a ser dado de presente para Napoleão I. Hoje, o local abriga três museus: o Musée Archéologique (Arqueológico), o Musée des Arts Décoratifs (Artes Decorativas) e o Musée de Beaux Arts (Belas Artes).
– Le Musée des Arts Décoratifs – Ele engloba os apartamentos do cardeal e os reais. Ali vemos toda a riqueza dos móveis e da decoração das residências de luxo do século XVIII. Destaque para a Salon des Évêques (Salão dos Bispos), onde painéis mostram as virtudes cívicas. Eles foram implantados ali durante a Revolução, quando o palácio virou a sede da prefeitura da cidade. Já os bustos dos imperadores romanos escaparam das mãos dos revolucionários.
Na Chambre du Roi (quarto do rei), onde Louis XV ficou em 1744 e mais tarde Maria Antonieta, o destaque é a decoração rocaille e uma tapeçaria feita a partir dos desenhos de Rubens. Ela retrata a vida do imperador Constantino. Na verdade, ela é parte de uma série de cinco tapeçarias, localizadas, sobretudo, na biblioteca, um dos cômodos seguintes da visita.
Outra parte interessante são as salas onde estão expostas as porcelanas da Manufacture de Strasbourg, da família Hannong. A manufatura, criada em 1721, na cidade, só operou durante 60 anos, sendo fechada por causa do monopólio de Sèvres. A sala onde estão expostos relógios antigos também é bem legal, além dos trabalhos de ourivesaria.
– Musée des Beaux-Arts – Esse museu traça um panorama da arte italiana, francesa e holandesa do Renascimento até o século XIX. Napoleão I havia constituído uma interessante coleção de arte, que foi dispersa durante a guerra de 1870. Alguns anos depois, Wilhelm Von Bode, diretor dos museus reais da Prússia, que controlava Strasbourg, constitui um novo acervo, mas, por causa da rivalidade entre os dois países, deixa a pintura francesa de lado. Ela só é incorporada mais tarde à coleção.
Do lado da arte italiana, o destaque vai para uma Crucificação de Giotto (1320). Tem também La Vierge et L’Enfant (Virgem e o Menino), de Botticelli (meados do século XV), e uma pintura de Rafael, Portrait de Jeune Femme (Retrato de uma mulher jovem). Há ainda obras de Vernonèse, Tintoret, Guerchin (Guercino), entre outros
Na parte de pintura francesa, encontramos o caravagista Simon Vouet, com Loth et ses Filles (Lot e suas filhas), de 1633. Há um retrato do todo-poderoso Cardeal Richelieu, feito por Philippe de Champaigne, além de obras dos mestres do século XIX, como Delacroix, Courbet e Corot, etc.
Da pintura flamenga, as obras datam dos séculos XV, XVI e XVII, como Les Fiancés, de Lucas van Leyden. Claro que não poderiam faltar Rubens (obras dele e de seu ateliê), Van Dick, Jordaens, entre outros.
Já de pintura espanhola há muito pouco: Mater Dolorosa, de El Greco (final do século XVI), além de dois Zubaran e um Goya.
– Musée Archéologique – É muito interessante. Reúne objetos de Strasbourg e região, vindos em grande parte de necrópoles, e que vão desde a Pré-História (600 mil a.C.) até o começo da Idade Média (século VIII d.C.).
Uma das curiosidades são as sepulturas da época da Proto-História (Idades do Bronze e Ferro). Os esqueletos são colocados na posição em que foram encontrados, tendo ao lado os objetos com os quais foram enterrados, como cerâmicas, jóias e armas.
Na parte que retrata a época Galo-Romana (período em que os romanos dominaram a então Gália), uma das coisas mais legais é a reconstituição de uma casa romana, com seus afrescos e até um pedaço de mosaico encontrado na catedral em 1970. Há também estelas de túmulos de legionários romanos (Strasbourg era um campo militar), esculturas, cerâmicas e objetos religiosos.
E para mostrar quem foram os Merovíngios, encontramos vários objetos reunidos vindos de necrópoles da região. Tem até um crânio cortado, prova do quanto as armas deles eram letais.
Endereço: 2, place du Château
67000 Strasbourg
Telefone: 03 88 52 50 08
Horários: De quarta a segunda, das 10h às 18h.
3) Musée Alsacien (Museu Alsaciano) – É o museu de arte e tradições locais. Foi criado há um século por personalidades da cidade que queriam preservar a cultura alsaciana ameaçada pela germanização – a Prússia dominava Strasbourg. Fica numa típica casa regional, com suas belas galerias de madeira esculpida.
No começo da visita, o destaque é para a residência alsaciana. Há reconstituições de fachadas das fazendas da região, explicações sobre o sistema de aquecimento das casas, com vários fogões de aquecimento em porcelana ou fonte, além de móveis coloridos dos séculos XVIII e XIX.
Nessa parte, o que mais gostei foi a reconstituição de uma cozinha tradicional, com equipamentos muito interessantes. Por exemplo, o grande exaustor agrupava a fumaça e se comunicava com o andar superior, onde era aproveitado para defumar a carne. Também encontramos a reconstituição de uma farmácia do século XVIII.
Vários aspectos da vida na região são retratados, como formas de bolo para eventos importantes. Por exemplo, forma de bebê para batizados. Outra tradição que achei bem curiosa: a figura do Conscrit (recruta). Ela é representada com roupa branca, chapéu florido e fitas coloridas e teve início no final do século XVIII, quando o serviço militar se tornou obrigatório. Era feito um sorteio para saber quem deveria ir para o exército, que durava sete anos. Aqueles que escapavam eram classificados como “bons para casar”.
Aliás, essa importância do casamento e religião, a gente vê na parte que mostra as roupas típicas. É muito diferente. O laço na cabeça, que era pequeno em 1810, vai crescendo mais e mais com o passar dos anos. No começo do século XX, mais ou menos em 1920, os laços quase nem passavam na porta. As fitas coloridas eram para moças católicas e solteiras. As pretas para protestantes e mulheres casadas.
Eu babei com a sala que mostra os brinquedos antigos do lugar. Tem várias casas de boneca, bonecas, comércios em miniatura, soldados, cavalinhos, jogos e até uma cozinha com 150 acessórios.
Nesse museu também há uma reconstituição: é de um stub – a sala comum de uma casa alsaciana do campo, o único cômodo com aquecimento. Nesse caso, é reproduzida uma residência católica. Tem o canto do quarto, a parte do pai (com a Bíblia) e o canto de Deus, com um crucifixo.
As três religiões são representadas – Catolicismo, Protestantismo e Judaísmo-, em pinturas, presépios católicos e até um oratório judeu. Também várias atividades estão representadas, como, por exemplo, a fabricação de queijo ou o cultivo e fabricação do vinho, entre outras.
Endereço: 23-25, quai Saint-Nicolas
67000 Strasbourg
Telefone: 03 88 52 50 01
Horários: De quarta a segunda, das 10h às 18h.
4) Musée Historique de la Ville de Strasbourg – Esse museu está situado em uma construção mais do século XVI, onde funcionava a Grande Boucherie, ou seja, o mercado de carnes. Ele conta a história da cidade desde a Idade Média até o século XX. É muito legal fazer a visita com o audioguia, pois não precisa clicar em nenhum número, é só andar pelo museu e automaticamente você ouve a explicação sobre aquela parte visitada.
Em dois andares, aprendemos sobre as idas e vindas de Strasbourg entre as mãos dos franceses e alemães. É um percurso extremamente interativo e multimídia: em várias partes há filmes e áudios que podem ser vistos individualmente.
Uma das partes mais importantes do museu é a maquete da cidade encomendada por Louis XV em 1727. Medindo 11m x 7m, é enorme para a época e mostra a topografia do lugar no século XVIII. Na mesma sala, um filme de cinco minutos conta como foi construída a obra.
Uma parte que me comoveu foram as biografias dos moradores que lutaram na resistência contra os nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Civis, como eu e você, que não tiveram medo de arriscar suas vidas para salvar os judeus. Alguns desses cidadãos foram pegos e mortos, outros sobreviveram. É difícil não chorar ao saber sobre suas vidas. Mas há também a biografia de um oficial alemão e de um funcionário de um marechal francês.
Também são muito legais os objetos sobre Guttemberg e a imprensa – ele passou algum tempo em Strasbourg; e também os que contam a história de La Marsellaise, que foi composta e teve sua primeira execução na cidade por Rouget de Lisle.
Endereço: 2, rue du Vieux Marché aux Poissons
67000 Strasbourg
Telefone: 03 88 52 50 00
Horários: De terça a domingo, das 10h às 18h.
5) Musée Tomi Ungerer – Centro International de l’Illustration – Para quem gosta de ilustração esse é o lugar. O artista, nascido em Strasbourg e hoje vivendo nos EUA, doou seu acervo à cidade, que lhe dedicou um museu em uma construção do século XIX. O lugar fica no bairro alemão e é uma graça. Ungerer é, assim, um dos poucos artistas ainda vivo a ter um museu.
Cada andar é dedicado a uma faceta do ilustrador. No térreo está seu aspecto mais popular: as obras dedicadas às crianças. Ali também se encontram as ilustrações que ele fez após ter vivido os horrores da Guerra. As histórias protagonizadas pelo personagem Otto são um exemplo. Uma animação mostra as principais crianções do artistas.
No primeiro andar, estão os cartazes publicitários, como os que ele fez para o New York Times, além daqueles dedicados a diversos tipos de espetáculos. No meio, há várias obras que satirizam o contexto social e político da época em que foram realizadas – mas que continuam mais atuais do que nunca.
No subsolo é a vez dos desenhos eróticos, muitos adaptações de contos infantis, recheados de humor. Gostei muito de visitar esse museu, foi um passeio diferente e ainda pouco conhecido pelos brasileiros.
Endereço: 2, avenue de la Marseillaise
67000 Strasbourg
Telefone: 03 69 06 37 27
Horários: De quarta a segunda, das 10h às 18h
Esses foram os museus que visitei. Faltou o Musée de l’Art Moderne e o Musée Zoologique, quero ver os dois da próxima vez. Você não precisa visitar todos – e nem nenhum deles se não quiser. Em todo o caso, se está de passagem por Strasbourg e gostaria de ver ao menos um, espero que esse post tenha lhe ajudado. Se quiser economizar nas visitas, aconselho a comprar o Strasbourg Pass. Com ele você tem um dos museus grátis e 50% no segundo, mas também não paga uma série de atrações, como passeio de barco, aluguel de bike por 30 minutos, etc, além de reduções em outras. O passe adulto custa 16,90 euros e o Junior, até 18 anos, apenas 8,45 euros. Saiba mais aqui
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