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Misia – a mulher que inspirou Paris

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Enquanto muitas das obras do D’Orsay estão no Brasil, o museu segue com suas atividades promovendo várias exposições interessantes. E uma delas é intitulada Misia, Reine de Paris (Misia, Rainha de Paris). Mas, afinal, quem é/foi Misia? Uma pintura, escultora, fotógrafa?

Misia à sa coiffeuse - Félix Valloton - 1898

Nascida em São Petersburgo em 1872, Marie Sophie Olga Zéneide Godebska, conhecida como Misia, foi, na verdade, uma pianista. Mas ela não compôs nada e nem promoveu grandes concertos. Aliás, ela quase não promoveu concerto nenhum. Seus números ao piano se restringiam às reuniões que promovia para os amigos, reuniões estas que fizeram a história de Paris.

Foto realizada por um anônimo

Então, quem foi esta mulher a quem o museu D’Orsay dedicou uma exposição? Ora, Misia foi, nada mais nada menos, a mulher que por mais de sessenta anos – ela morreu em 1950 – influenciou e inspirou Paris. A sua lista de admiradores é tão extensa quanto célebre: Pierre Bonnard, Toulouse-Lautrec, Édouard Vuillard, Marcel Proust, Maurice Ravel, Claude Debussy, Erik Satie, só para citar alguns.

Édouard Vuillard - Nuque de Misia - 1899

Tudo começou mais ou menos na época do seu primeiro casamento, em 1893, com um primo distante e amigo de infância Thadée Natanson. Diretor de La Revue Blanche, uma revista de vanguarda, que reuniu algumas das mais brilhantes mentes da época, Thadée abriria à Misia as portas do mundo das artes parisiense.

Déjeuner à Villeneuve-sur-Yonne - Natanson

O apartamento do casal, em Paris, e a casa de campo, primeiro em Valvins, depois em Villeneuve-sur-Yonne, sediam encontros fervilhantes de debates, onde a música e a beleza de Misia embalavam os convidados. O poeta Stéphane Mallarmé considera a jovem pianista a verdadeira alma de La Revue Blanche e lhe dedica um leque, que Misia guardará por toda a vida.

Pierre Bonnard - Affiche pour La Revue Blanche - 1894, Museum of Modern Art (MoMA), New York

Toulouse-Lautrec - La Revue Blanche - 1895

Ela começa a ser inspiração para os maiores pintores da época. Bonnard e Toulouse-Lautrec a escolhem como símbolo em um cartaz publicitário para a revista, na qual eram ilustradores. Ela ainda posaria para várias capas. Há fotografias feitas por Vuillard mostrando Misia em diversos momentos, sozinha ou na companhia dos amigos. Ela também foi modelo para vários quadros de Renoir.

Édouard Vuillard - Misia sur le perron, Cannes

Porém, os tempos áureos da revista são rápidos. Arruinado em dívidas, o casamento fica desgastado e Misia acaba se envolvendo com o magnata da imprensa, Alfred Edwards, fundador do jornal Le Matin, com quem se casa em 1905. As noites artísticas agora mudam de endereço, mas ela continua sendo inspiração para artistas e também para fofocas.

Pierre-Auguste Renoir - Misia Sert - 1904, National Gallery London

Após alguns anos de casamento, Edwards se apaixona pela atriz Genevieve Lantelme, casa-se com ela, que morre misteriosamente afogada em 1911, o que atiçou as más-línguas da Cidade Luz. Ao pintar um painel para a sala de jantar de Misia, em 1910, Bonnard utiliza na decoração um colar de pérolas, pois dizem que a pianista ofereceu a joia para que a jovem amante abandonasse o seu então marido.

Pierre Bonnard - Misia et Edwards assis sur le pont - 1906

Continuando a agir como mecenas, Misia utiliza a pensão que recebe do ex-marido para financiar sua nova paixão: os Ballets Russos. Ela patrocina a produção de “L’après-midi d’un faune” (1912), inspirado na obra de Mallarmé de mesmo nome e na composição de Debussy, e “Le Sacre du Printemps” (1913), dois espetáculos encenados pelo então estreante Nijinski e que provocam grande escândalo. Mas é na produção de “Parade” (1917), que Misia reúne em torno de si uma nova geração de criadores, como Debussy, Ravel, Satie (autor da música), Jean Cocteau (que faria os poemas), Picasso, Marie Laurencin (responsáveis pela decoração), entre outros.

Ilustração com Vaslav Nijinsky em L’Après-midi d’un faune - para a capa do programa do Théâtre du châtelet ,Paris, Léon Bakst, 1912,

Ela também apresenta o mundo artístico de Paris a uma jovem amiga, que conhecera em 1916: Coco Chanel, que a chamava de Madame Verdunrinska. Em 1920, acontece seu terceiro casamento, desta vez com o pintor José Maria Sert, com quem vivia junto desde 1908.

Coco Chanel e Misia

A felicidade não duraria muito, pois, em 1927, Misia seria novamente trocada por uma mulher mais jovem. Desta vez, a infelicidade da pianista seria inspiração para Cocteau em “Les Monstres Sacrés”, de 1940, onde o escritor colocaria em cena o trio de personagens inspirados em Misia, Sert e Roussy, a amante que se tornou esposa do pintor.

Édouard Vuillard - Misia Sert et sa nièce Mimi Godebska. Les Tasses noires, 1925

Após três casamentos e três divórcios, Misia, sempre chamada pelos jornalistas de Rainha de Paris, acaba seus dias quase cega, viciada em morfina, mas cercada de amigos, entre os quais a sempre fiel Chanel, que, segundo dizem, foi quem preparou o corpo da pianista para o enterro.

Édouard Vuillard - Le Peignoir rouge (Misia) - 1898

A exposição no museu D’Orsay procura, através desse percurso da vida de Misia, ressaltar os quatros aspectos mais marcantes da sua personalidade: a música, a musa, a mecenas e a mulher apaixonada. São apresentados os quadros dedicados a ela, as fotografias em que aparece, assim como os presentes que recebeu. Há também uma parte sobre os Ballets Russos, inclusive com os figurinos de Picasso. O visitante pode ouvir trechos da obra de Ravel dedicados a Misia assim como Trois Morceaux em forma de Poire, de Satie, seu concerto preferido.

Misia, reine de Paris
Museu D’Orsay
Horários: de terça a domingo, das 9h30 às 18h – Quintas-feiras até às 21h45
Tarifa: 9 euros – Reduzida: 6,50 euros
Acesso: RER C – Musée D’Orsay
Metrô linha 12 – Solférino
Até 9 de setembro



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