Jóia do período de transição entre a Idade Média e o Renascimento, Langeais impressiona por sua beleza imponente, dominando a pequena cidade de mesmo nome. Situado a meio caminho entre Tours e Saumur, na antiga província conhecida como Touraine, o castelo é uma das atrações do Vale do Loire, região inundada de castelos e classificada como Patrimônio da Humanidade pela Unesco.
O primeiro castelo
A história de Langeais começa por volta do ano 990. Nessa época, a Touraine é cobiçada por dois condes, que tinham mais poder que o próprio rei da França: o conde de Blois, Eudes I, e o conde de Anjou, Foulques Nerra. Este último leva a melhor ao conquistar a praça de Langeais, uma pequena cidade com posição estratégica na Touraine. Para assegurar o acesso ao Loire e à estrada que acompanha o rio, Nerra decide, então, construir um castelo na elevação rochosa que há no lugar. Deste primeiro « château », hoje restam apenas vestígios da torre principal, chamada de Donjon de Foulques Nerra – donjon é o nome em francês para a torre principal de um castelo.
Do domínio inglês ao francês
Depois de construído, o château de Langeais é sucessivamente ocupado, ora pelo conde de Blois, ora pelo de Anjou. Até que, em 1044, Geoffroy Martel, filho de Foulques Nerra, conquista o castelo. Assim, nos séculos seguintes, como toda a Touraine, Langeais permanece nas mãos da casa de Anjou e depois dos Plantagenetas – dinastia descendente dos Anjous e que governará a Inglaterra. Durante esse domínio, que vai até o final do século XII, o château chega mesmo a ser ampliado por Ricardo Coração de Leão.
Em 1206, ao vencer o rei inglês, João sem Terra, o rei da França, Filipe Augusto, toma posse de Langeais. O castelo torna-se, assim, propriedade da Coroa Francesa. Nos anos seguintes, o feudo é concedido a diversos senhores próximos ao rei.
A construção de um novo castelo
Durante a Guerra dos Cem Anos, Langeais torna-se, por várias vezes, refúgio de grupos armados e o castelo é bastante danificado. Em 1422, Charles VII retoma o château e ordena sua demolição. Só a Donjon de Foulques Nerra é poupada. Luis XI, seu sucessor, decide, então, construir um novo castelo, alguns metros abaixo de onde ficava o antigo. A construção começa em 1465 e fica a cargo de Jean Bourré, tesoureiro da Coroa e amigo do rei. Após diversas interrupções durante as obras, em 1466, Luis XI cede Langeais a seu primo, chamado Dunois.
Cenário de um casamento real… e secreto !
Alguns anos depois, no dia 6 de dezembro de 1491, o castelo torna-se palco do mais importante acontecimento da época : o casamento entre o novo rei Charles VIII e Anne de Bretagne. Era a oportunidade de colocar fim às disputas entre a França e a Bretanha, e anexar a região. A cerimônia foi secreta e teve apenas algumas testemunhas, pois Anne ainda era casada com Maximiliano I, imperador alemão.
Um castelo esquecido que retorna à vida
Depois de Dunois, o castelo é cedido a vários senhores e fica sem manutenção. Em 1766, é comprado pelo duque de Luynes. Durante a Revolução Francesa, Langeais é poupado da destruição, mas continua sem muito cuidado. Em 1839, o château é comprado por Christophe Baron, que o restaura e o mobilia. Mas, após a morte de Baron, os móveis de Langeais são vendidos por seu filho para pagar dívidas.
O château parece de novo fadado ao esquecimento. Até que, em 1886, um banqueiro e funcionário do governo francês, Jacques Siegfried, interessa-se por Langeais e decide comprar a propriedade. Apaixonado pela Idade Média, o novo senhor do castelo passa vinte anos restaurando-o. Ele, inclusive, compra móveis característicos do período medieval para mobiliar o château.
Assim, Langeais recupera seu esplendor e reproduz fielmente o estilo de vida da nobreza do final da Idade Média e começo do Renascimento. Satisfeito com castelo restaurado, Siegfried doa a propriedade para o Institut de France, que a mantém até hoje.
Ponte entre a Idade Média e o Renascimento
O castelo de Langeais possui uma « dupla fisionomia ». Na parte da frente, que dá para a cidade, tem o aspecto de um castelo-fortaleza medieval, rodeado por duas grandes torres e com muros de poucas aberturas. Duas pontes levadiças marcam a entrada, uma delas usada até hoje para que os visitantes entrem. Já a parte de trás, por assim dizer, é uma residência de luxo renascentista, com belos jardins e cômodos confortáveis e espaçosos. Folhagens são esculpidas em torno de portas e janelas. O mobiliário do castelo, por sua riqueza e evolução, conta as mudanças do modo de vida do final da Idade Média. Naquela época, quanto mais torres, mais cômodos e mais muros altos tivessem seu château, mais o personagem era poderoso.
O castelo de Langeais possui 15 salas mobiliadas. É considerado um dos mais ricamente mobiliados do Vale do Loire. Segundo a restauração de Siegfried, seus cômodos são chamados de acordo com a função que desempenham Assim, há a Sala do Banquete, o Quarto da Dama, o Quarto das Crianças e por aí vai…
A Sala do Banquete é uma das maiores e mais importantes do castelo. Nela, é possível imaginar as festas dadas pelos senhores de Langeais, ou pelo rei, a toda aristocracia da época.
Outra sala muito importante é o Salão do Casamento. Como o próprio nome diz, foi ali que aconteceu a celebração das núpcias de Charles VIII e Anne de Bretagne. Hoje, nós podemos reviver o evento através de uma reconstituição feita com bonecos de cera e uma projeção de imagens, na qual a história é narrada.
No Quarto das Crianças há, inclusive, objetos e brinquedos da época medieval. Através deles, podemos imaginar como os filhos do casal real, que morreram muito cedo, viviam. Há também um Salão de Artes, onde a pintura em azul e vermelho vivos, tão apreciados na Idade Média, dá destaque as obras ali expostas. Na « Salle des Faïences », é possível admirar delicadas e refinadas porcelanas, estas da época de Siegfried, ou seja, do século XIX.
Após percorrer quase todo o interior do castelo, é a vez da “Salle des Preux”, ou seja, Sala dos Valentes. E um salão no andar mais alto do castelo dedicado aos cavaleiros medievais. A jóia desse cômodo é uma tapeçaria de 1530, chamada Neuf Preux (Nove Valentes). Na verdade, essa obra é um conjunto de nove tapeçarias, representando nove personagens conhecidos por sua valentia, sendo três deles bíblicos (David, Josué e Judas), três da antiguidade pagã (Heitor, Alexandre e César) e três figuras importantes para o cristianismo da época : Arthur, Carlos Magno e Godefroy de Bouillon. Restaurado em 2006, é o mais importante conjunto deste tipo conservado no mundo. Dos nove personagens, sete estão em Langeais e são os únicos que ainda existem.
Este tipo de tapeçaria da « Salle de Preux » servia para mostrar os exemplos que deveriam ser seguidos por toda a sociedade da época. Mas, as tapeçarias poderiam mostrar também cenas da vida aristocrática. Assim como os baús, elas se adaptavam bem ao modo de vida nômade da Idade Média e podiam ser mudadas de acordo com o estado de humor do senhor do lugar. O castelo de Langeais possui 36 tapeçarias dos séculos XV e XVI, espalhadas por seus salões e quartos.
Antes de sair do castelo, podemos andar no caminho de ronda, onde a muralha possui várias aberturas, que eram usadas para defesa antes da utilização das armas de fogo.
Langeais também abriga exposições temporárias, sempre relacionadas com o período da Idade Média ou Renascimento.
Fora do castelo, ainda há muito o que se ver. O pequeno jardim, concebido como na Idade Média, é belo mesmo no outono.
Subindo um pouco mais, vemos o andaime medieval da Donjon de Foulques Nerra. Podemos subir no andaime e de lá ter uma bela visão do castelo e de uma parte da cidade de Langeais.
Mais para cima, encontramos várias áreas de jogos e uma cabana em cima de uma árvore, na qual podemos subir também. As crianças adoram.
Além disso, há um belo parque com cedros e sequóias e um pequeno mirante, de onde se vê o Loire lá embaixo.
Apesar de não ser um dos castelos mais conhecidos pelos brasileiros, Langeais vale a visita. Mesmo para quem está sem carro, o château é de fácil acesso, pois fica somente a cinco minutos a pé da estação de trem da cidade. Então, se você gosta de história e de lugares bonitos, não deixe de visitá-lo e sinta-se como o convidado de um casamento de reis.
Informações :
Aberto todos os dias, nos seguintes horários :
Fevereiro e março, das 9h30 – 17h30. De abril a junho e de setembro a 12 de novembro, das 9h30 – 18h30. Julho e agosto, das 9 h-19 h. E de 13 de novembro até 31 de janeiro, das 10 h-17 h.
Tarifas – adultos : 8,50 euros. Jovens até 25 anos : 7,20 euros. Crianças até 17 anos : 5 euros.
Tags: castelo, Château, França, história, Idade Média, Langeais, Loire, Medieval, Patrimônio
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