Eugène Delacroix (1798-1863) foi um dos mais importantes artistas do século XIX. Autor de quadros, afrescos, desenhos e gravuras, além de ser um teórico da História da Arte, foi uma influência para outros mestres, como os impressionistas, e até para a pintura moderna. Viveu em muitos lugares em Paris, sendo o apartamento da praça Furstenberg, no bairro de Sant-Germain-des-Prés, sua última casa e ateliê. É nesse local que hoje fica o Museu Delacroix.
Um apartamento calmo e perto do trabalho
Em 1847, Delacroix recebe a encomenda para decorar a capela de Saints-Anges na igreja Saint-Sulpice. Nessa época, o pintor vivia e trabalhava na rua Notre-Dame de Lorette já havia três anos. Porém, com o passar dos anos, ficou doente e o trajeto de sua casa até a igreja foi ficando cada vez mais penoso.
![Hamlet, Delacroix, arte, Paris](http://diretodeparis.com/wp-content/uploads/2013/05/DSCN3197.jpg)
Eugène Delacroix – Autoportrait dit en Ravenswood ou en Hamlet (autorretrato como Ravenswood), 1821.
Então, no começo de 1857, Delacroix passou a procurar um novo local para morar e instalar seu ateliê. Ele contou com a ajuda de um grande amigo, Étienne Haro, um restaurador de quadros. Foi Étienne que encontrou o apartamento da praça Furstenberg que, além de ser perto da igreja, era grande e ficava em um lugar calmo e arborizado. A construção fazia parte do antigo palácio abacial de Saint-Germain-de-Prés.
Mas as negociações demoraram cerca de um mês. Delacroix estava reticente, mas para convencê-lo a ficar com o apartamento, Haro recorreu a Jenny Le Guillou, a fiel governanta, que trabalhava para o artista desde 1835. Ao mesmo tempo, obteve dos proprietários um contrato que permitia a construção de um ateliê no jardim, desde que os projetos fossem aprovados por eles. O tempo desse contrato era de quinze anos e se Delacroix morresse antes disso, os donos poderiam exigir o restabelecimento do apartamento em seu estado de origem.
A reforma começou em maio, com a supervisão do próprio artista, além da de Étienne Haro. Em dezembro de 1857, entre os dias 24 a 28, Delacroix finalmente se instala no novo local. Ele estava encantado: nas suas correspondências, menciona a calma do bairro, a luz que banha os tetos das construções vizinhas, a beleza do jardim. Além, é claro, do espaço, que era bem maior do que na sua antiga moradia.
De fato, o apartamento compreendia um vestíbulo, dois quartos (o dele e o de Jenny), uma sala de jantar, cozinha, sala de estar, a biblioteca, o ateliê e o jardim. Delacroix dispunha também, no último andar, de dois quartos para empregados e uma cave. Mas o pintor deve esperar até março de 1858 para começar a trabalhar no ateliê, pois as reformas duram até a primavera. Assim, é ali, nesse apartamento, que ele trabalha e vive os seis últimos anos de vida.
Após a morte de Delacroix, em 1863, a Sociedade São Vicente de Paula obtém o aluguel do apartamento e do ateliê. Até que em 1928, Charles Panckoucke, que havia herdado a propriedade em 1914, decide romper o contrato, que ia até 1931. Corria o boato de que o herdeiro planejava demolir a construção para fazer uma garagem no local.
Para impedir a demolição, os membros da Association Sauvegarde de l’Art Français (algo como Associação de amparo à arte francesa) tentam fazer com que o ateliê e o jardim sejam classificados como monumento histórico. Assim, impediriam qualquer destruição. Porém, esse pedido só é concedido em 1991.
Aí entram em cena os amigos e admiradores do artista, que fundam, às pressas, a Société des Amis d’Eugène Delacroix (Sociedade de Amigos de Eugène Delacroix). Eles conseguem convencer Panckoucke a não destruir a construção. E também conseguem alugá-la. Porém, não tinham dinheiro e, em 1931, recorrem à prefeitura de Paris para pagar o aluguel e fazer algumas reformas no apartamento. A Sociedade também organiza, no local, exposições anuais dedicadas à Delacroix.
Tudo ia bem até que, em 1946, Packoucke morre sem deixar herdeiros. Então, ele deixa suas propriedades para o Sanatório de Pen-Bron, que havia conhecido durante a Segunda Guerra Mundial e ficado tocado com o estado precário do lugar e das finanças. Em troca, o sanatório deveria construir um pavilhão dedicado ao benfeitor.
Porém, os administradores não tinham dinheiro para efetuar as reformas para construir o tal Pavilhão Panckoucke. Por isso, são obrigados a vender vários imóveis, incluindo o antigo apartamento de Delacroix.
Decidida a adquirir a antiga moradia do mestre, a Société des Amis vende uma parte de sua coleção aos museus nacionais franceses para poder reunir o dinheiro necessário. Dois anos depois, ela cede a propriedade ao Estado, que é encarregado de criar ali um museu. Assim, em 1971, o museu Eugène Delacroix torna-se o Museu Nacional Eugène Delacroix. Em 1992, o Estado adquire o apartamento vizinho para construir a recepção e, em 2004, o museu é anexado ao Louvre.
A visita
Do apartamento de Delacroix, podemos visitar a sala, a biblioteca, o quarto, além do ateliê e o jardim. Os móveis são da época do pintor e alguns até mesmo pertenceram a ele. Várias de suas obras – como quadros, rascunhos, desenhos e gravuras – estão expostas, além de outras de seus contemporâneos e amigos, adquiridas pelo próprio Delacroix. Podemos também ver cartas, objetos pessoais e as lembranças trazidas de sua viagem ao Marrocos.
O museu organiza várias exposições temporárias ao longo do ano, todas dedicadas ao artista ou releituras de sua obra. Além disso, o acervo exposto é mudado periodicamente. Mas, a essência da visita permanece a mesma e é a seguinte:
A sala
Foi arrumada de acordo com a disposição da época de Delacroix. Um inventário feito pouco após a morte do artista mostrava a lista de objetos e disposição dos móveis. Estão expostas na sala, além de objetos pessoais, algumas obras de Delacroix, como Autoportrait en Hamlet, e outras adquiridas por ele, como os quadros de Richard Parkes Bonington.
Uma curiosidade são os retratos do próprio artista e de Thales Fielding (1793 – 1837), seu grande amigo. O retrato de Delacroix foi feito por Fielding, e o de Fielding por Delacroix. Uma bela troca de talento simbolizando a amizade.
Biblioteca
No tempo do artista, esse cômodo era a passagem para ir até o ateliê. Também era onde os visitantes esperavam para serem atendidos pelo pintor. Na biblioteca, Delacroix guardava cerca de 400 livros e sua coleção do Magasin Pittoresque. Hoje, estão expostos ali vários estudos que o artista realizou para a decoração do Palais Bourbon (onde hoje é a Assembleia Nacional francesa), entre outros desenhos. Há, também, um busto de Delacroix de Antoine Etex.
Saindo da biblioteca, pegamos uma escadaria para ir ao ateliê. Quando o artista vivia ali, essa escadaria era envidraçada para que ele, que já estava com a saúde abalada, pudesse ir trabalhar sem ser incomodado pelo frio ou pela chuva. Na verdade, foi a prima e amante de Delacroix, Joséphine de Forget, que o convenceu a fechar a escadaria. Ela achava que o jardim era úmido e desprotegido.
Ateliê
Foi um pouco modificada desde o tempo do artista, mas é possível sentir ali atmosfera que reinava durante seu trabalho: um lugar de calma, tranquilidade e luz, propício para a criação de obras-primas, como os afrescos da capela Saints-Anges, na Saint-Sulpice, ou os quadros para o salão de 1859, o último em que participa.
Ali está a maioria dos quadros de Delacroix do museu, como, por exemplo, L’Education de la Vierge, além dos objetos, como o seu cavalete, uma de suas paletas e as lembranças vindas do Marrocos. Há também belas obras de outros artistas, da mesma época ou estilo, como as do seu primo Leon Riesener (1808 – 1878).
As duas métopas e o baixo relevo da fachada principal do ateliê (que podemos ver a partir do jardim) foram comprados pelo próprio Delacroix
Jardim
Foi reformado recentemente para ficar mais próximo ao que Delacroix mantinha. A descrição foi encontrada em documentos antigos, embora não haja nenhuma obra do pintor retratando o jardim.
Ainda hoje é um lugar calmo, onde não ouvimos o barulho de Saint-Germain-des-Prés, um dos bairros mais animados de Paris. Imagine, então, no tempo do pintor! Em suas correspondências, o artista menciona que ali ele sentia um prazer renovado em cada estação. Era a inspiração perfeita para a sua sensibilidade criativa.
Quarto
Voltando ao apartamento para a parte final da visita, temos o quarto de Delacroix. Foi ali que ele morreu em 13 de agosto de 1863. Assim como o restante dos cômodos, a maior parte dos móveis que estavam ali foi dispersa após a morte do pintor. Mas, de novo graças ao inventário, o museu pôde adquirir alguns deles, como uma cadeira que pertenceu ao artista e que está atualmente exposta nesse cômodo. No quarto também estão expostos principalmente quadros que Delacroix fez de seus próximos, como o retrato de Jenny, Le Guillou, a sua governanta.
![Jenny le Guillou, Delacroix, obra, museu](http://diretodeparis.com/wp-content/uploads/2013/05/DSCN3429.jpg)
Eugène Delacroix – Portrait de Jeanne-Marie, dite Jenny, Le Guillou (Retrato de Jeanne-Marie, chamada de Jenny, le Guillou.
Após o quarto e antes de chegarmos à livraria, há uma sala de informação, com um grande mapa de Paris, onde estão colocados todos os apartamentos em que Delacroix viveu, assim como as construções, públicas ou religiosas, que ele decorou e os museus que conservam sua obra.
Musée National Eugène Delacroix
6 rue de Furstenberg
75006 Paris
Horários:Aberto de quarta a segunda, das 9h30 às 17h00.
Fechado às terças-feiras.
Tarifas- coleção permanente: 5 euros
Exposições temporárias: 7 euros
Bilhete conjunto com o Louvre: 11 euros, válido no dia da compra para as coleções permanentes.
Fotos: são proibidas durante as exposições temporárias.
Metrôs: Metrô: Saint-Germain-des-Prés (linha 4) ou Mabillon (linha 10)
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